domingo, 31 de maio de 2009

conto: a barca de caronte


o chumbo voava no corredor do hospital enquanto a horda tropega avançava mais e mais... passando por cima de corpos que caiam alvejados, macas e cadeiras hospitalares que ha muito foram deixadas espalhadas durante o inicio do fim de tudo. jah havia sangue espalhado pelas paredes e chao bem antes daquelas figuras chegarem lah.

cada metro conquistado pelos mortos vivos significava que os momentos finais na vida de alvaro ramirez estavam chegando proximos, mas ele estava ali para lutar ateh o final... ganhando tempo para a fuga da doutora naomi e o resto da Equipe caronte, um grupo de “badboys” que nao tinham mais nada a perder, mas queriam ajudar da forma que podiam: “localizar e destruir”.

seu fuzil cuspia o restante da muniçao decapitando e desmembrando: a carne dos zumbis era dilacerada, mas pouco sangue ainda era jorrado daquilo que antes eram pessoas como eu e voce, jah haviam morrido ha tempos e o sangue de seus corpos já estava bastante coagulado adquirindo uma bizarra viscosidade. nao existia medo naquelas coisas, nem consciencia ou qualquer sensaçao a nao ser a fome – “nao podiam nem ser chamados de animais!" – pensou alvaro.

mas a turba avançava, embora as rajadas da arma de fogo os retardassem, nao hesitavam, apenas estendiam os braços decrepitos e abriam as bocarras apodrecidas em busca da carne. a carne de alvaro! súbito, ao inves do barulho ensurdecedor de cartuchos explodindo ouviu-se sonoros “clicks-clicks”.

o jogo estava acabado.

alvaro nao tinha muito tempo para pensar, havia aprendido a agir sob reflexo ha tempos: apenas pegou sua faca e arremessou no ultimo zumbi que iria ter a oportunidade de abater. a faca foi cravada em cheio na testa do morto vivo, fazendo-o cair como se tivesse enfim percebido seu destino manifesto – “estah morto, c@&@%$#*!!!” – o sobrevivente olha para o lado, abre a primeira porta proxima antes de ser quase apanhado por maos e dentes... e entao fica tudo escuro. ainda sob ato reflexo tateia rapidamente ateh encontrar a tranca da porta.

entrara em uma pequena dispensa de materiais de limpeza, pelo que percebeu pelo cheiro e pelo tamanho diminuto ao qual agora ficara confinado, um pequeno cubiculo de 1 metro quadrado. os mortos continuavam batendo, arranhando com o resto de unhas que ainda possuiam, gemendo...

aquilo era o beco sem saida – “a barca do ceifeiro finalmente o conduziu a outra margem do rio” – como diziam em seu grupo sobre os membros que morriam: a equipe caronte sao homens e mulheres que velejam na barca do inferno, e sabem que um dia sua viagem simplesmente chega ao fim.

apenas sentou na escuridao. Pos sua cabeça entre os joelhos e esperou... nao havia mais nada. a engenheira quimica quem vieram resgatar jah estava a salvo, sua missao foi completada com sucesso. entre o vazio e a algazarra insana do outro lado da porta: sempre a um instante de despedaçar a porta que o separava dos zumbis. alvaro percebeu com o tempo que nao era tao forte quanto imaginava...

a pressao da morte iminente jah estava levando-o aos limites da sanidade. era uma questao de escolha: morrer de inaniçao ou entregar-se aquelas coisas e virar mais um a andar entre os mortos. a segunda escolha nao era uma opçao. em meio as sombras, pensou que beber o material de limpeza poderia condena-lo a agonizar durante horas ante de finalmente morrer.

e concluiu que talvez tenha se livrado de sua própria faca cedo demais...

-mwxs (terra devastada)

domingo, 17 de maio de 2009

Conto - Entre suór, alcool e cinzas


Dou uma tragada forte no cigarro e sinto a fumaça deslizar docemente para meus pulmões... Olho fixamente para a mulher sensual sentada no bar. Aquele não era um lugar apropriado para mocinhas de boa familia visitarem, mas tudo bem, eu não sou exatamente o tipo de cara que procura mulheres assim.

Vestido e batom vermelhos, pele morena exalando algo indefinido entre paixão e sexo. Seu olhar: dois punhais prontos para saltar e abater a primeira vítima noturna. Naquela noite, alguém estava vestida para matar.

Ela percebe que despertara meu interesse e de nenhuma forma fica inibida. Eu não esperava outro tipo de reação.

Um gole de whisky faz meu sangue esquentar, embora a presença do gelo seja supérflua dada as circunstâncias... É nesta hora que eu levanto e caminho em direção ao bar. Ao me aproximar ela disfarça como se nada estivesse acontecendo. De fato, nada havia acontecido. Ainda.

Enquanto peço mais uma dose de whisky, dupla na verdade, conto meu nome. - "Eu sou Jack, muito prazer... aceita um cigarro?" - Olho diretamente para seus olhos para deixar claro o que eu quero. Ela tenta manter a seriedade e um pequeno sorriso escapa num dos cantos de seus doces lábios. - "Jack? Por que será que eu acho esse nome tão peculiar?".

"Meu pai lia muitas histórias... O velho dizia que Jack é nome de herói". - Respondo ainda oferecendo o cigarro e tentando manter o jogo velado que já iniciara entre nós dois. - "Me chamo Jack Cochrane, e a srta...".

Ela aceita o cigarro. - "Lisa" - "Meu nome é Lisa, Sr. Jack 'Herói' Cochrane. Mas lamento não ser alguém que ainda possa ser salva".

Ela aceita o cigarro. Aceita o whisky. Aceita ir até meu apartamento.

E durante aquela noite, entre lençóis suados, garrafas vazias e pontas de cigarros apagados... Dois desconhecidos encontraram uma chama de prazer numa cidade escura, fria e violenta.