Vejo o homem do outro lado do espelho. Às vezes, reconheço seu rosto. Às vezes não.
Os feixes brancos avançam pela barba e cabelos escuros, são expressão e alegoria do homem dividindo a alma com a criança. Em algum lugar dentro de seus olhos eu encontro a criança, que dividira sua alma com o homem.
Neste caminho doloroso, lutarei toda vez pelo homem e pela criança, porque quando chegar a morte da esperança e a vitória da sombra, a minha sombra, verei no espelho e não conhecerei seu rosto. Será para sempre o rosto de um estranho. Seu nome a lembrança vaga de alguém familiar e distante. A tabula rasa que nunca desejou ser.
Em seu caminho doloroso, o homem e a criança não largam as mãos. Então encontram o velho. Também o vejo, quando vejo no espelho. Em seu caminho doloroso, sua própria Via-crúcis da Paixão.
Perdidos, os encontro em algum lugar dentro dos olhos daquele rosto que vejo no espelho. Encontrados, desejo que nunca percam um ao outro, em seu caminho doloroso.
Resigno-me. Aceito-me. Abstraio-me. Ergo-me do abaixo para alcançar algo acima. O que permanece.
Para que eu nunca esqueça daquele rosto do outro lado do espelho. Em meu caminho doloroso.
Reconheço-me. Ainda.
GWT
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